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Os dois lados: a vida e a morte

30 de março de 2013

Quando observamos a vida de muitos cristãos, comparando-as com a de pessoas que não se dizem religiosas, esperamos encontrar uma diferença que seja perceptível, mostrando que aqueles são absolutamente mais nobres, justos e felizes do que estas. No entanto, essa diferença, muitas vezes, não é tão perceptível assim, levando o observador a concluir que, talvez, a fé que aqueles professam não seja tão superior.

Essa conclusão, porém, é fruto de uma compreensão equivocada em relação à natureza humana. O homem não é um ser estático. Sua constituição é, podemos dizer, intermediária. Está entre o melhor e o pior do que ele pode ser. Mesmo cristão, está sujeito às mazelas de sua natureza humana, mesmo cético, não está totalmente desconstituído de sua natureza espiritual. Sendo assim, mesmo crentes estão sujeitos às variações, inclusive negativas, como seres humanos que são. Suas vidas podem apresentar momentos de nobreza e retidão, da mesma forma que de iniquidades e injustiças. Eles são assim, infelizmente.

Essa natureza dinâmica e universal, ademais, é o que torna o homem um ser ainda não definido. Estando em um estado intermediário, pode seguir em direção à sua parte mais nobre, que é o espiritual, ou descambar para a injustiça, que é o carnal.

Nesse sentido, a morte não se refere apenas a uma fragmentação físico-biológica que ocorrerá em determinado momento na vida de cada pessoa. Morte é o estágio final de um ser dinâmico, assim como a vida também é. 

O homem presente, por isso, é morte e vida. Estes dois extremos da existência estão presentes em sua constituição temporária. Talvez fosse até melhor dizer que o homem contém, em si mesmo, a morte e a vida, mas nenhuma delas ainda se apossou totalmente de seu ser. Por isso, à vezes agimos de acordo com a morte que há em todos, às vezes agimos de acordo com a vida que também existe em cada um.

O que diferencia as pessoas, portanto, é menos o que são atualmente (pois são todos intermediários), mas o que serão definitivamente. Cristãos ou não, crentes ou não, ninguém está ainda definido. Apenas o final do caminho mostrará.

E aqui se encontra a verdadeira diferença: há os que caminham em direção à morte e os que caminham em direção à vida. Ainda que ambos possuam tanto a natureza carnal como a espiritual, aqueles dão mais ênfase ao que é da carne, que é morte em essência; estes, pelo contrário, intensificam o que há de vida neles, que é o espiritual. Portanto, a morte é o caminho da carne e a vida o caminho do espírito.

A grande diferença entre os cristãos verdadeiros e os incrédulos não se encontra nos atos isolados, que podem ser bons ou maus, mas na ênfase que dão às suas vidas: se carnal ou espiritual.

Teologicamente, pode-se dizer que os salvos são os que caminham para a vida, enquanto os condenados são os que caminham para a morte. 

Compreendes agora a salvação do ladrão da cruz? Até aquele instante, ele caminhava para a morte. No derradeiro momento, porém, sua ênfase mudou e passou a caminhar para a vida.

Por isso, uma auto-análise correta recai não sobre os atos que cometemos isoladamente, mas sobre para que lado estamos indo. Um erro pode ser consertado com o arrependimento e o perdão, mas uma vida que caminha para a morte apenas com uma verdadeira conversão.