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Bandeiras surradas

26/09/2013 - Esta é ainda uma sociedade fundamentada sobre os princípios cristãos. Por isso, os velhos lemas continuam a ser proclamados: a liberdade, a igualdade, a democracia, o respeito e os direitos. Porém, o que são essas bandeiras sem a ideia que as sustentou por quase 2 mil anos? Se tornaram meras expressões avulsas, quase abstratas, que não correspondem a nada no mundo real. O Ocidente tornou-se uma Ágora de loucos, reverberando princípios que sequer eles fazem ideia sobre seus significados.

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As almas ocidentais se debatem, assustadas, com a cada vez maior hegemonia das ideologias anticristãs. Se sentem aterrorizadas com o poderio retórico e de manipulação que tem conduzido o homem-massa a se apegar a essas novas formas de comportamento. O que mais as espanta é a velocidade com que os novos padrões são impostos e absorvidos pela sociedade. O que, há poucos anos, parecia impensável, hoje se torna quase uma regra de conduta.

O que torna essa realidade mais assustadora é a percepção de que as velhas bandeiras ocidentais, como a liberdade e a democracia, mesmo quando hasteadas fervorosamente, não possuem mais aquela força intrínseca capaz de deter os totalitarismo que tenta se impor. Desesperadamente, tremulam as flâmulas com os antigos brasões, mas percebem que seus gestos não passam de uma reação tardia e ineficaz.

E isso acontece porque liberdade e democracia não significam mais o que significavam antes das duas guerras mundiais. Essas duas ideias, que são conquistas tipicamente ocidentais, nestes dois mil anos se alicerçaram e foram aperfeiçoadas sob o signo do cristianismo. Ainda que Grécia e Roma tivessem apresentado tais conceitos ao mundo, foi o cristianismo que, além de preservá-los, permitiu que a civilização ocidental os aprimorasse. No entanto, a partir do momento que o humanismo, nascido no crepúsculo da Idade Média, se espalhou pelo Ocidente, iniciou-se uma trajetória de afastamento gradual de Deus dos negócios humanos. Dessa forma, o mundo, construído sobre os alicerces cristãos, desenvolve-se sobre eles, mas, cada vez menos reconhecendo-os. Quando, no século XIX, a civilização atinge o grande momento das conquistas materiais, o que se vê é uma sociedade cada vez mais otimista quanto às suas próprias possibilidades e cada vez menos esperançosa quanto a influência divina no destino dela. As nações tomam o lugar de Deus na direção da história e o homem individual passa a ser absorvido para o interior desse Leviatã. Então veem duas grandes guerras, com seus milhões de mortos, deixando um legado de desesperança. O homem ocidental entra, então, em profunda crise. Ele, que aprendeu a confiar no Estado como seu protetor e direcionador, descobriu que fora esse mesmo Estado aquele que o enviou para morrer estupidamente em fétidos campos de batalha. 

Diante disso, o ocidental pós-guerra se encontrou em profunda crise espiritual. A herança que recebeu foi o abandono de Deus e a decepção com o Estado. Quem lhe poderia dar sentido foi esquecido e em quem ele confiou para direcioná-lo frustrou-o. Restou apenas um homem despersonalizado, absorvido nas demandas cotidianas impessoais, imerso em uma sociedade sem sentido e sem esperança. 

Mas esta é ainda uma sociedade fundamentada sobre os princípios cristãos. Por isso, os velhos lemas continuam a ser proclamados: a liberdade, a igualdade, a democracia, o respeito e os direitos. Porém, o que são essas bandeiras sem a ideia que as sustentou por quase 2 mil anos? Se tornaram meras expressões avulsas, quase abstratas, que não correspondem a nada no mundo real. O Ocidente tornou-se uma Ágora de loucos, reverberando princípios que sequer eles fazem ideia sobre seus significados.

E é esta sociedade fragmentada, despersonalizada e atordoada que se viu invadida pela ideologia materialista gerada em seu próprio seio, mas trazida à luz do outro lado do mundo. O comunismo, com seu materialismo ateu, desde que se viu fortalecido pelo declínio ocidental, vem tomando este lado do planeta desde dentro. E por mais que a sociedade ocidental perceba que algo está errado, que aquilo que está se materializando sob seus olhos não representa suas tradições, suas origens e nem sua forma de enxergar a vida, ela não possui força, nem os instrumentos necessários para combater o inimigo. A única coisa que ela conhece são os velhos lemas surrados por seus próprios erros, que lembram, sim, algo de valoroso, de combativo e de superior, porém apenas como lembranças belas de um tempo dourado esquecido.

O mundo ocidental de hoje não conhece mais a fórmula para combater o avanço do ateísmo militante que corrói suas entranhas. O que lhe resta é gritar os nomes dos remédios, os quais, porém, sem a composição que lhes permitia reagir contra as doenças, não passam de placebo.