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O caminho que liga a terra ao céu

14 de janeiro de 2014

O ímpeto, principalmente juvenil, pode ser a força para muitas realizações, porém pode, também, ser o caminho mais rápido para o precipício. Em tempos de exaltação da juventude, o realizar assume ares de prioridade, lançando o conhecer e, principalmente, o ser para um status acessório, apenas um complemento daquilo que é essencial: realizar. E na ânsia de realizar, de apresentar algo que possa ser reconhecido por todos, muitos tropeçam, trançando as próprias pernas, dobrando-se sobre o próprio ventre.

Por isso, a sabedoria não é para os moços. Para estes, está reservada a força para buscá-la. Porém, os frutos dessa busca são colhidos apenas na maturidade, pois é apenas quando os anos se acumulam e a morte espreita que o homem pode começar a ter verdadeira noção sobre qual é o valor verdadeiro de tudo. Para o jovem, tudo tem importância demais porque tudo parece perpétuo. O velho, por seu lado, sabe que o que permanece são pouquíssimas coisas e estas são as realmente valiosas.

Apenas a mente sábia valoriza aquilo que a traça e a ferrugem não corróem. Um coração sábio está onde os ladrões não escavam, nem roubam. Eles entendem a fugacidade de quase tudo e quanto é inútil correr pelo que desaparece. Não que o ideal seja a fuga do presente transitório, mas, de alguma maneira, o segredo da vida não encontra-se no abandonar-se no eterno, mas, sim, tornar aquilo que é passageiro como parte da eternidade.

Nessa perspectiva, cada pequeno gesto, ato e realização, quando consagrados a Deus, quando, de alguma forma, se relacionam com a eternidade, adquirem um valor transcendental. Quando mesmo um pequeno movimento é feito para a glória de Deus, ele passa a ser participante da glória. Ao fazer isso, o coração piedoso torna tudo o que o cerca espiritual.

Não, não estou falando daquela piedade exterior, que apresenta um semblante pesado pelas dores do sacrifício carnal. Nem digo da santidade plástica, que assume ares de perfeição, crendo que pode vencer as próprias fraquezas com esforço e prática. Tudo isso é apenas vaidade. São tentativas frustradas de superar a mazela que em nós é própria. Me refiro, sim, aquela atitude verdadeiramente espiritual de consagrar todas as coisas para louvor do Criador, dando sentido até para os mínimos aspectos de nossa existência.

O sábio é feliz exatamente porque sabe o caminho que liga a terra ao céu. E este contato é o que dá sentido a tudo o que fazemos por aqui. Por isso, à assembléia divina, a eclesia, foi concedida essa bênção, a de tudo o que ela ligar na terra ser ligado no céu. Isso significa, simplesmente, que ela tem a capacidade de tornar santo o que é perecível, fazendo com que aquilo que está atualmente condenado ao desaparecimento adquira sentido, ao ser relacionado com a eternidade.

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