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Ateísmo Ocidental: um filhote do cristianismo

Posso compreender perfeitamente, e até mesmo respeitar, a crença de que a Bíblia não é uma revelação divina. Afinal, isso depende de alguma fé, e esta pressupõe alguma experiência e comunhão com Deus. No entanto, negar que sobre suas letras a civilização na qual vivemos e da qual usufruímos fora construída chega às raias da ignorância.

Negar, ainda, sua historicidade e autenticidade me parece mesmo pilantragem intelectual. A veracidade de livros muito menos comprovados na história é aceita quase incontestavelmente. Alguns que sequer têm sua autenticidade plenamente verificada são citados como se fossem o que há de mais certo neste mundo. Histórias baseadas em escritos praticamente apócrifos são contadas e são eles que orientam esse ataque contra as Escrituras.

Atentemos que quase todos os grandes pensadores da história, mesmo os não cristãos, tiveram para com esse Livro um respeito tal que apenas demonstra que a atitude negativa para com a Bíblia é algo dissonante. É que eles, intelectuais que eram, reconheciam nela uma profundidade existencial inigualável. Também percebiam que de suas letras jorrava um fundamento seguro para a moral e para as relações humanas.

Mesmo assim, muitos se dizem ateus. Têm orgulho de apresentarem-se como homens independentes. Afirmam que a Bíblia é um conto de fadas que não merece sequer atenção. Porém, tudo isso apenas é possível, essa liberdade, essa presunção, essa individualidade, por causa das páginas contestadas da Bíblia. Afinal, o que é o ateísmo senão um subproduto, um desvio do próprio cristianismo?

Sim, esse ateísmo Ocidental é um desenvolvimento de uma reação contra o que os homens entenderam como monopólio da verdade praticado pela Igreja. Frequente qualquer cadeira de universidade e você verá que esse é o discurso que permanece até hoje: que até a Idade Média os homens não tinham liberdade de pensamento, que a consciência humana estava cativa e que depois é que os homens realmente se encontraram com a verdade.

Então veio o Renascimento, o Iluminismo (veja que os nomes dados a esses períodos já demonstram a presunção) e os homens começaram a colocar em questão os dogmas da fé. Acontece que, invariavelmente, esses mesmos homens eram eles mesmos cristãos. Porém, cristãos ressentidos com o que acreditavam ser uma imposição de ideias praticada pela Igreja.

E desde aquele período, a humanidade apenas se afastou mais e mais das páginas da Bíblia. Mas, que não se esqueça que o começo disso tudo não veio de arraiais inimigos, mas de dentro da própria religião cristã.

Entendemos, então, que mesmo para ser ateu, aqui no Ocidente, só é possível porque existiu uma história forjada por cristãos que, de alguma maneira, preparou-lhe o terreno para que ele pudesse destilar sua incredulidade. Se não fosse isso, talvez estivesse acendendo alguma fogueira para um deus Tupã qualquer.

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