27 de junho de 2013
"Manipulação é algo sutil, inteligente, quase imperceptível. O que acontece nestas terras é diferente, está mais para uma submissão bovina a qualquer porcaria que se escreve na imprensa. Qualquer coisa que saia nos maiores veículos de mídia brasileiros é tido, sem qualquer contestação, sem qualquer dúvida, como certo, absolutamente"
Quando se pensa em manipulação pela mídia, logo se imagina um trabalho sutil de inversão dos fatos, de propaganda quase subliminar, de alteração da verdade em favor dos interesses de grupos específicos. No entanto, o que ocorre no Brasil é aterrador. Aqui, a mídia não precisa ser manipuladora, basta ser mentirosa e todo mundo repete, frenética e velozmente, o que ela divulga.
O que ocorre aqui não é manipulação, mas verdadeiro monopólio da verdade. Manipulação é algo sutil, inteligente, quase imperceptível. O que acontece nestas terras é diferente, está mais para uma submissão bovina a qualquer porcaria que se escreve na imprensa. Qualquer coisa que saia nos maiores veículos de mídia brasileiros é tido, sem qualquer contestação, sem qualquer dúvida, como certo, absolutamente.
O caso da tão reclamada "cura gay" é mais que um símbolo, mas um exemplo perfeito de como, no Brasil, não há informação, mas apenas divulgação do que interessa para alguns grupos. E pior, um exemplo de como tudo o que aqui é veiculado pela mídia assume, imediatamente, ares de verdade eterna.
A começar pelo termo "cura gay". Todos (isso mesmo, todos!) os jornais, revistas e portais de internet conhecidos que falaram sobre o projeto de lei que tramita perante a Comissão de Direitos Humanos usaram essa expressão. Por ela, o que se entende, automaticamente, é que a proposta era a da permissão para os psicólogos praticarem uma espécie de curandeirismo, livrando homossexuais de sua patologia.
Ora, por que usar o termo "cura gay", se o projeto apenas retira algumas proibições que o Conselho de Psicologia havia imposto aos psicólogos que tratavam homossexuais que os procuravam com seus conflitos? A resposta é óbvia: causar repulsa no leitor em relação ao projeto.
Ao ler que a lei permitiria que os homossexuais fossem curados, imediatamente o leitor identificaria um preconceito, pois logo pensaria: um homossexual não é um doente.
E como o brasileiro não lê nada mesmo, não verifica nenhuma informação, o que vimos foi uma disseminação de "pensantes inconformados" por causa da suposta homofobia de um pastor, que além de não ser autor do projeto, não tinha direito a voto na comissão.
Se a burrice fosse algo restrito à massa, já estaríamos condenados como nação. Porém, quando burrice igual se encontra em uma elite considerada intelectual, então podemos afirmar que essa nação já sofreu sua execução e já vive seu próprio inferno.
E foi isso que vimos por aqui, neste caso. Foram artistas, jornalistas, escritores, filósofos e palpiteiros profissionais que trataram o projeto, sem qualquer pudor, como algo que, pelo furor como se manifestavam, parecia que obrigaria a todos os homossexuais a dirigirem-se a algum campo de concentração evangélico para serem submetidos a alguma espécie de lobotomia homofóbica.
No entanto, para qualquer pessoa minimamente responsável, bastava, em 3 cliques no computador, acessar o site da Câmara dos Deputados e verificar que o projeto não tinha qualquer proposta positiva, mas, simplesmente, retirava uma proibição emitida pelo Conselho de Psicologia, que impedia que psicólogos tratassem homossexuais que estivessem em conflito com sua escolha.
E o alvo maior das reclamações, obviamente, foi o pastor Marco Feliciano. Tido como que por um Hitler protestante, a imagem que tentaram passar dele foi a de um líder maligno que comanda um grupo que tem como praticamente único objetivo curar todos os gays de suas enfermidades.
No entanto, não percebem o quanto essa afirmação é contraditória. Isso porque nenhum pastor ou padre pode entender o homossexualismo como uma doença, meramente. A Bíblia, e nisso se inclui a Igreja, tem, há uns 5.000 anos, a relação homossexual como pecado. Se é pecado, então não pode ser doença. Se um ministro cristão tratar o homossexualismo como doença estará impedido, consequentemente, de condenar o praticante do ato ao fogo do inferno.
Se fosse assim, Feliciano deveria ser louvado pelos gays. Seria o primeiro pastor protestante conhecido a livrar a homossexualidade da condenação eterna!
O irônico disso tudo é que, há não muito tempo, eram os próprios experts da saúde que tinham o homossexualismo como enfermidade reconhecida. Foi apenas em 17 de maio de 1990, ou seja, há meros 23 anos, que a OMS retirou o homossexualismo da lista internacional de doenças.
De repente, o jogo vira. Os que condenavam o homossexualismo à patologia, agora se colocam como os defensores de sua normalidade e aqueles que o tinham como algo absolutamente normal, corriqueiro e não mais do que pecaminoso são colocados como os que querem afirmar sua anormalidade.
Mas tudo isso poderia ser evitado com o mínimo de interesse, de bom senso e de estudo. Não, não era necessário que as pessoas fossem intelectuais ou profissionais da área. Bastava, além de alfabetização, uma lidinha rápida na Wikipedia e na Bíblia para saber que o que a imprensa estava divulgando tinha alguma coisa de errado.
Se você está lendo este artigo, que fique uma lição em sua mente: não confie jamais nos órgãos de imprensa brasileiros.