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Os ruídos do cotidiano

22 de janeiro de 2013

"... vivemos imersos em confusão. A concentração (...) torna-se problemática. Captar sutilezas, desenvolver a intuição e até usar a percepção que seja um pouco mais sensível é um esforço descomunal. Por causa da dispersão constante e do excesso de dados, navegamos apenas pela superfície das coisas, não conseguindo mergulhar nas profundezas das ideias"


Quando nos deitamos para dormir, se temos algum problema, este problema vem à cabeça de maneira muito forte, chegando até a atrapalhar o sono. Lembramos das questões que precisam ser resolvidas, das situações difíceis que iremos passar e tudo se torna, de alguma maneira, muito grande. Chegamos, como eu disse, a perder o sono, pois parece que essas situações que rodeiam nossa mente resolvem atacar, com toda sua força, exatamente no momento que precisamos descansar.

Isso acontece porque, quando estamos deitados, prontos para dormir, não há a influência de muitas informações exteriores. No máximo, o som de um ou outro carro passando na rua, um cachorro que late no vizinho e algum ruído isolado que ecoa de algum outro lugar.

Assim, livres da dispersão da infinidade de informações que recebemos, nossa mente parece que concentra seu foco naquelas situações que parecem, naquele determinado momento, adquirir maior importância. Longe dos afazeres, dos barulhos e das preocupações cotidianas, a atividade cerebral parece concentrar-se somente naquilo que, por alguma razão, lhe parece mais relevante.

O interessante é que, normalmente, quando estamos imbuídos em nossas atividades diárias, cercados pelos sons do dia-a-dia, aquelas mesmas preocupações que perturbaram nosso descanso noturno, quando não se dissipam totalmente, ao menos diminuem consideravelmente. Se assim não fosse, elas nos paralisariam.

O que aprendemos, com isso, é que vivemos imersos em confusão. A concentração, por isso, torna-se problemática. Captar sutilezas, desenvolver a intuição e até usar a percepção que seja um pouco mais sensível é um esforço descomunal. Por causa da dispersão constante e do excesso de dados, navegamos apenas pela superfície das coisas, não conseguindo mergulhar nas profundezas das ideias.

Sendo superficiais, apenas os aspectos menos importantes de tudo é que alcançamos. Nos tornamos, por isso, fúteis, vazios e desinteressantes. Pouco do que diz respeito às causas verdadeiras, aos princípios mais importantes e aos aspectos mais relevantes é o que apreendemos. Sabemos um pouco de tudo, mas bem pouco.

Porém, esse estado não é o ideal para quem tem como objetivo a compreensão da realidade. Para isto, não basta ter acesso a um volume muito grande de informações, menos ainda recebê-las tão sem ordem e caoticamente como acontece ordinariamente, mas, mais importante, é conhecer profundamente aquilo que se sabe.

Para isso, necessário é diminuir consideravelmente os ruídos que nos cercam, fugindo da dispersão causada pelas generalizações e ausência de profundidade. Ao invés de querermos olhar para tudo, como se tudo tivesse o mesmo grau de importância, quem pretende compreender a realidade deve dispor as informações que recebe em níveis de relevância, ofertando aos assuntos primordiais sua alma, sua força, sua energia. Em relação às outras coisas, devemos oferecer, no máximo, nossa condescendência misericordiosa.

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