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Resenha sobre o filme 'In Time'




18/07/2012 - Essa entidade que ligeiramente se movimenta no invisível nos consome e, no fim, abandona-nos sós. Ela, que está sempre à frente, escapando-nos ainda que nos movimentássemos como Mercúrio, se torna uma opressora impiedosa e não misericordiosa. Tão má que destrói os que a ignoram e maltrata aqueles que a veneram. No fim, somos todos seus escravos.



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O tempo é um bem precioso, e quem ousaria negar isso? Mesmo imperceptível em seu desenrolar, tão lento que a noção de seu valor esvai-se, uma breve reflexão sobre o custo de seu desperdício é suficiente para perceber que não reverenciá-lo é um tipo de morte. Se a vida apenas pode ser glorificada em seus momentos que apresentam sentido eterno, o abandonar-se à letargia é destruir, a cada vez, a razão de existir.

O valor de tudo, costumamos apreciar, se encontra em sua influência material. Nos perguntamos, ao aquilatar sobre as coisas, o quanto elas são úteis, o quanto elas nos retornam em outras coisas, qual o seu poder de troca e o quanto elas nos permitem usufruir da vida. A força material é a medida.


Ao considerar essas coisas, me parece que a proposta do filme In Time, mesmo empastelada, em seu roteiro, de clichês enjoativos, como a culpa da riqueza e a justiça do bom ladrão, é bem original. Como se fosse uma subversão da reflexão de Anold Bennett, em seu livro Como viver com 24 horas por dia, onde o autor fala sobre a vantagem do tempo sobre a matéria, o filme faz pensar sobre a vida em seu valores, não materiais, mas cronológicos. Imaginar um mundo onde não há dinheiro físico, mas tudo é contado em tempo, nos remete à reflexão sobre o que fazemos com nós mesmos.

Imagine-se tendo apenas um dia a mais de vida. Se não desejar morrer, necessário é buscar meios que lhe remunerem com, pelo menos, mais um dia, a fim de que no dia seguinte você possa fazer o mesmo, preservando assim sua existência. Até mesmo acordar tarde pode ser fatal. O tempo, fator crucial, não pode ser desperdiçado.

Sob o impacto da película, ao olharmos para nossas vidas reais, reconhecemos a importância de não desperdiçarmos tempo. Não apenas o capitalista que busca o lucro ou o trabalhador que persegue a remuneração, mas também o artista que deseja criar ou o intelectual que quer conhecer, todos sentem que abandonar-se à inércia é como jogar fora parte de suas vidas.

Ainda assim, quanto tempo perdido! Essa entidade que ligeiramente se movimenta no invisível nos consome e, no fim, abandona-nos sós. Ela, que está sempre à frente, escapando-nos ainda que nos movimentássemos como Mercúrio, se torna uma opressora impiedosa e não misericordiosa. Tão má que destrói os que a ignoram e maltrata aqueles que a veneram. No fim, somos todos seus escravos.

O mérito do filme está, portanto, em conseguir materializar o valor do tempo. Vendo-o como moeda de troca, nós, absorvidos que estamos na medida monetária de tudo, podemos medir também o tempo, não apenas como o desenrolar dos fatos, mas como presença real em nossas vidas. É uma abstração provocada, mas bem colocada.

Agora, quando leio o provérbio bíblico: atende ao bom andamento da sua casa e não come o pão da preguiça (Pr 31.27), tais palavras se tornam, após essa reflexão sobre o tempo, como proposto pelo filme, mais que conselhos, mas alertas vitais. O único problema é que o tempo passa e o impacto da reflexão se esvai. Aos poucos, voltamos a ver tudo com os velhos olhos materialistas, que valorizam as coisas palpáveis, não a própria existência.



O PREÇO DO AMANHÃ


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